terça-feira, 4 de maio de 2010

Educação e Cultura também são uma questão de política.

04.11.2009

A saia justa da Uniban

qua, 04/11/09 por milton.jung | categoria Carlos Magno Gibrail | tags , , , ,

Por Carlos Magno Gibrail

“Pu-taaa! Pu-taaa! Pu-taaa!”

Cerca de 700 alunos da Uniban, Universidade Bandeirantes de São Paulo, campus de São Bernardo, pararam as aulas do noturno para perseguir, xingar, tocar, fotografar, e cuspir. Tudo isso contra uma aluna do primeiro ano do curso de Turismo, 20 anos, 1,70 metro, cabelos loiríssimos esticados, e olhos verdes, que compareceu à escola em um microvestido rosa-choque, pernas nuas com pelinhos oxigenados à vista, salto 15, maquiagem de balada, na quinta-feira da semana passada (22)”. FOLHA.

De lá para cá, todas as mídias abriram todos os tipos de espaço. Com razão, pois não é um fato pontual e ocasional. Há que estudá-lo, tal a complexidade da causa e a perplexidade do efeito. Não só momentâneo, mas também extemporâneo, pois Mary Quant, o pessoal de Woodstock e os estudantes revolucionários dos anos 60 jamais poderiam imaginar tal retrocesso social, político e comportamental. Nem mesmo as moças da foto de 37 publicada acima.

Mais do que o resultado do ENEM, que avalia apenas comparativamente o conhecimento, esta manifestação de massa certamente traz o reflexo de fatores primários inconsistentes diante de um ambiente universitário culturalmente acima daquele que os novos participantes não conseguem absorver, tal a diferença do meio que vieram.

O despreparo é gritante e deixa de ser intrigante a reação que se viu diante de um símbolo de moda colocado num ambiente não pertinente. Fato que se observa cotidianamente em todos os ambientes, sem que haja reações de massa e muito menos com a agressividade verificada.

Sociologia, psicologia, pedagogia e economia podem explicar setorialmente esta manifestação, mas a filosofia numa pegada freudiana, marxista e fascista, através da Escola de Frankfurt na passagem da predominância dos economistas para os filósofos, com os trabalhos de Theodor Adorno e Max Horkheimer na primeira metade do século 20, é que tem a resposta mais contundente. É o que confirma Paulo Ghiraldelli Jr. proeminente filósofo brasileiro, em sua análise “A moral por centímetros – o caso Uniban”:

“Adorno e Horkheimer apontaram o choque que as pessoas arcaicas, provincianas e vindas do meio rural tiveram ao chegar às cidades. Ficaram oprimidas pela organização que desconheciam e ficavam revoltadas ao perceber que existiam outros que se davam bem nesta estrutura.

No episódio Uniban, pessoas sem tradição familiar de frequentar faculdade, saem muito rápido de um ambiente que exige pouca capacidade intelectual para a Universidade. A Uniban ensina mal, paga mal, recruta mal. Absorve os alunos que não entraram ou não entrariam na USP, PUC, FGV, etc.

A menina de minissaia simboliza toda a Universidade com sua característica do diferente. O diferente simboliza todo o aparato novo que está oprimindo os que vieram de ambientes menos exigentes.

Se a Uniban tivesse obstáculo para entrar, obrigando a esforço de obtenção de conhecimento, se tivesse obrigado a estudar, a adaptação seria facilitada. Pois, por pior que seja é uma Universidade e apresenta enorme dificuldade de introdução dada a diferenciação de ambientes. Ainda há neste caso a questão do preconceito contra a mulher”. (Adaptado de Paulo Ghiraldelli Jr)

Definimos Moda como uma forma de comunicação, e Elegância como uma maneira pertinente ao ambiente de se vestir.

A Moda é o centro aparente da ocorrência e a não Elegância sua resultante, porém como quase tudo em nosso Universo, a causa do episódio não é aparente. É muito mais profunda.


Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda, escreve às quartas no Blog do Milton Jung e nunca se constrangeu diante de uma saia justa.

8 Respostas para “A saia justa da Uniban”

  1. 1
    carlos magno gibrail:

    Prezados ouvintes internautas, a perplexidade aumenta.
    Todos os sites , a começar pelo G1 acabam de noticiar que os alunos de Turismo da UNIBAN, não satisfeitos com o infeliz episódio, aguardavam na noite de hoje, o retorno da estudante ,com nariz de palhaço. Em protesto pela atitude e uso da mini saia.
    Mais, ainda declararam consciência (finalmente com alguma coisa) que o reboliço causará problemas no mercado de trabalho.
    Adorno e Horkheimer não devem estar acreditando que suas análises sobre fascismo pudessem ainda valer em 2009. Freud talvez esteja mais acostumado pois loucos e desequilibrados nunca deixaram de existir.

  2. 2
    beto:

    Olá Carlos,

    Não podemos nos esquecer que, no ano de 2005 no Jornal de Estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco USP, continha piadas de conotação racistas.

    Dois anos depois em 2007, na UFRGS por conta das cotas, houve por parte de um grupo de estudantes de direito, manifestações racistas com conotações nazistas, segundo o que foi constatado.

    Ou seja, imbecilidade não é atributo apenas de estudantes de universidades tidas como de “baixo nível“. Os alunos de universidades chamadas “alto nível“, tb sabem descer bem baixo.

    Eu bati palmas para o filósofo, educador e teólogo Mário Sérgio Cortella que disse no Telejornal Hoje:

    “Numa escola, onde a lógica é você poder debater, trazer a reflexão, aceitar aquilo que não é idêntico para poder crescer e criar, isso implica numa intolerância num lugar que chama universidade, onde se acolhe tudo o que é diverso”.

    Este disse tudo!

    Na minha opinião de simples mortal não filósofo, arrisco a dizer que, o que essa moça sofreu foi a ditadura do “bichogrilismo”: Não ir para Universidade de camiseta, calça Jeans surrada e rasgada de fábrica e não se entorpecer com artigos “fumacentos” e etílicos; não é de bom tom, é um erro que pode ser fatal, como constatamos.

    Uma coisa é certa, conforme seu ultimo post: Além de sofrerem previsível discriminação pelo nome e a qualidade de tal universidade, dizer que cursou nesta instituição será mais um ponto negativo, diferente dos alunos de faculdade de ponta em que, atitudes desprezíveis são tidas como destemperos normais de juventude.

    Abraços

  3. 3
    Letícia:

    Esse é o retrato da nossa juventude, retrato dos jovens que frequentam a universidade a amanhã serão os profissionais que estarão no mercado de trabalho. São jovens fúteis, intolerantes e preconceituosos que não sabem aproveitar a oportunidade que uma universidade pode oferecer por pior que ela seja. É lamentével e vergonhoso ver episodios como este aconetecer dentro de uma universidade.

postado por Andrea Puríssimo, às 13:36

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